ATENÇÃO



A T E N Ç Ã O

As informações deste blog não foram escritas por um médico e não substituem o diagnóstico, acompanhamento e tratamento da doença falciforme. Não pratique a auto-medicação. CONSULTE SEMPRE O MÉDICO HEMATOLOGISTA!



terça-feira, setembro 06, 2005

O depoimento da Fernanda

Quando eu comecei o blog sobre a Anemia Falciforme, o intuito principal era trocar experiências, falar sobre o que os portadores sentem, quais as dificuldades que enfrentamos, quais as nossas expectativas perante a vida, enfim, falar sobre as pessoas.
Muito se encontra pela internet sobre AF, dados médicos, estatísticas, enfim... Mas pouco se falam sobre pessoas, e era sobre isso que eu queria falar.
Eu pedi aos amigos virtuais, portadores de AF que eu encontrei na comundade do Orkut, que me enviassem seus depoimentos, falassem sobre a sua "doença", mas esbarrei num pequeno problema.
Muitos de nós não gostamos de falar sobre isso. Muitos nunca pensaram em colocar no papel o que sentem.
A Fer, querida, foi a primeira.
Obrigada Fer, fiquei muito emocionada com o seu depoimento, e posso te dizer que muito do que você disse eu também sinto. Um beijo...
" Há pouco tempo atrás, menos de dois anos acho, muita coisa resolvi mudar, principalmente o modo de lidar com as coisas apesar da dificuldade. Quando se cresce com uma doença pré-existente (como é o caso da anemia falciforme) que te impede e te deixa a passos lentos, você acaba criando um submundo só seu. Por outro lado acaba passando a todos que convivem com você a força que se cria a mais para agüentar tal doença. Em uma crise já me senti um lixo, descabelada, revoltada, triste, vazia. Tudo! Totalmente humilhada e por muitas dessas vezes perdi a força... Não é fácil agüentar ter diversas infecções, tomar penicilina só por “precaução”, ter dores tão intensas (que te faz por instantes perder a vontade de viver te deixa literalmente perdido e absorto), mas as pessoas que estão a minha volta sofrem tanto quanto, e eu agüento por mim, mas não posso agüentar por elas então é mais fácil muitas vezes tentar afastá-las, e se revoltar até com a sociedade que de tão hipócrita e preconceituosa me faz me sentir pior, talvez por não entenderem... Talvez ... Mas viver assim também não é viver, e ter uma doença dessas só te faz crescer... é isso que eu aprendo e que ensino aos outros.

Quando se é criança é tão mais fácil, você tem as crises, toma vários remédios, vive cheio de casacos, mas passa esquece fácil até a próxima crise, mas crescemos...
Para família é um pouco ou “um muito” pior, ver sofrer e não poder fazer nada. Meus pais são fortes, ficavam explicando a tudo e a todos sobre anemia falciforme e até aos médicos (graças que as coisas hoje melhoraram muito), eles brigam, eles lutam e sempre foram muito bons para lidar com isso tudo e principalmente ótimos para mim.

Mas quando já estava com uma certa idade a situação piorou, você já não aceita não poder jogar um vôlei com a galera na praia, porque o sol além de torrar os miolos e te deixar com dor de cabeça a canseira é fácil, fácil logo depois de 5 minutos, não aceita morar no litoral e não poder pegar uma onda, não poder pegar um trampo daqueles de temporada que você vai dar um gás danado! Ou uma noite de baladas daquela que acaba com qualquer um que já tenha muito oxigênio, ou até pular numa cachoeira gelada, mesmo no verão... Bom, mas apesar de não aceitar tudo isso eu tentei... sempre tentei tudo que não posso! Mesmo com pais a contragosto... mesmo com crises depois!!! que me revoltavam e me deixavam semanas fora da escola, perdendo, perdendo... e ganhando apenas uma overdose maciça de antibióticos, antiflamatórios, analgésicos (que claro sempre é melhor companheiro numa hora dessas).... sempre altamente revoltada... quer queira quer não atrapalha você a se relacionar com as pessoas e até deixar alguém se aproximar, mas aprendi a lidar ter uma malícia, aceitar o carinho e o apoio de muitos... olhar estranho de outros... o preconceito... (esse é foda!!!), aprendi acima de tudo a ver como a felicidade está nessas pequenas coisas que eu faço mesmo que seja a conta gotas.

Teve num certo momento que a depressão veio... e acabou com uma boa parte de mim, além de acabar com meu namoro, meu trabalho, meus amigos.... junto com crise então não se explica... mas! É assim... essa é a vida! Além da anemia falciforme, temos todos outros problemas como qualquer um, e pensando bem temos menos problemas que muitos também.

Tenho 22 anos, um irmão com 19 que não tem a doença e muito menos o traço e melhor ainda não trabalha, não estuda e não quer nada da vida e ainda reclama pakas!!! (que ironia), e tive um pediatra até dois anos atrás! Uma pessoa que eu amo, que como meus pais me fez viver com melhor qualidade possível nesse mundo!!!
Atualmente tenho uma excelente Hemato, e algumas complicações, hospitais são difíceis e os convênios nem se fala (já que estou para perder o meu e para fazer outro... ai ai ai q dor de cabeça), mas aqui na baixada santista é um bom lugar para se tratar dessa doença, não tenho muitas reclamações.


Tava na hora de CRESCER, ACEITAR de parar de fingir e tirar medo de que não posso falar pra ninguém da minha situação por medo ou preconceito ou rejeição, tirar medo de um futuro que eu possa ter medo de construir, tirar medo de ter medo...

Sim as adaptações são diversas em cada caso... as coisas viravam até desculpa para não se fazer algo, mas percebi que não é assim, e depois de um mundo girando totalmente, mudei muito.... a timidez, o medo de correr atrás do que se gosta, do que se tem vontade...

Hoje estou aprendendo muito ainda mais com tratamento psiquiátrico (outra fonte de preconceito), tratamento com Hydrea (e as diversas reações da qual eu não estava acostumada), e a esperança.... Mas falo abertamente com todos, encaro relacionamentos, amizades, trabalho (ui!), por mais que eu tome diversos não, que caia, ou que não de certo.... mas isso acontece com todos, até com quem não tem anemia falciforme! Como tem gente que não pode com perfume forte que logo fica ruim eu não posso com um esforço maior e assim acabei vendo simplicidade, sem claro deixar de andar com um analgésico bem forte na mochila, básico que faz encarar dia sem precisar parar tudo já que mundo adulto ta ai (e como ele é chato). Mas acabamos pegando as manhas...

Ainda to aprendendo a lidar com fato de querer ou não ter filhos, ou de fazer trabalhar com que eu gosto sem pegar pesado, e aprendendo até mesmo a levar um casaco junto de vez em quando.

Minhas hemoglobinas (toscas!) tem apelidos carinhoso dos amigos, e eu cresci muiiiiiito com essa doença, que eu digo que não foi ruim tê-la já que ela ensinou muito... a mim, a minha família, até as pessoas mais próximas... já que vemos tanta gente ai esbanjando saúde e burrice, deixando de viver! Imagino se eu não tivesse, será q eu viveria tão intensamente? Aprendi principalmente respeitar a nos mesmo e a nosso corpo, numa vida de louco q se tem hoje, e principalmente a ver a felicidade e trilhar mesmo com dor, e como é verdadeira a frase que nos diz q as melhores coisas da vida são as mais simples!!!
Beijos a todos que tem ou não “meia luas”!!!
"

quinta-feira, setembro 01, 2005

"A Nil (Nildene Mineiro - Jornalista) fez hoje em seu flog um apelo que eu acho que vale a pena passar pra frente e ajudar.
Essa matéria foi publicada no Jornal Meio Norte, semana passada... A foto acima é apenas ilustrativa, mas não muito longe da realidade dessa família “Dizer que Francisca das Chagas dos Santos e Rogério Feitosa, pais de quatro filhos na cidade de Timon (MA), vivem uma situação difícil parece pouco para descrever a história dessa família, que tenta sobreviver com apenas o salário mínimo. Se não bastasse a situação de miséria, de uma renda média de R$ 50 ao mês por pessoa, eles ainda enfrentam problemas como uma casa prestes a desabar e crianças precisando de constante tratamento médico devido à anemia falciforme, glaucoma e miopia acentuada. Enquanto concede entrevista, Francisca das Chagas chora de desespero, para ter forças e continuar tendo fé de que sua vida vai melhorar. Entre os quatro filhos, Maria Elisabeth, de 8 anos; Lucas dos Santos, de 7 anos; Mateus Yúri, de 3; e Jorge Luís, de um ano e meio. Lucas e Jorge Luís têm anemia falciforme e Maria Elisabeth tem glaucoma e miopia. A menina está ameaçada pela cegueira e para enxergar usa um óculos com lentes de 9 graus e meio e precisa de tratamento contra glaucoma. As crianças com anemia falciforme são dependentes de ácido fólico, medicamento que deveria ser distribuído gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), já que o Ministério da Saúde tem um programa específico para o combate à doença. Sem estarem inscritos em nenhum programa assistencial, Francisca não tem como comprar o ácido e muitas vezes assiste impotente as crises de Lucas e Jorge. "É nessa hora que o desespero e o medo de perdê-los tomam conta de mim, eles ficam muito pálidos e sem forças ", declara Francisca. Ela conta que quando as crianças estão em crise ficam acamados por causa da fraqueza. Para piorar a situação, na casa de Francisca todos dormem amontoados numa única cama. A casa tem apenas três cômodos, é de taipa e as paredes estão para cair, escoradas por vigas de madeira expostas ao sol e à chuva, do lado de fora da casa. "Nesses últimos dias uma das paredes caiu por cima da cama que Elisabeth dormia. Ela escapou, mas a caminha dela se foi", conta Francisca. Na moradia também não há banheiro e muito menos fossa séptica. A sobrevivência de toda família, está por conta do salário de Rogério Feitosa, que trabalha na companhia de limpeza pública de Timon. "Tem meses que eu entrego tudo que recebo para a quitanda, onde compro as comidas fiado. Tento pelo menos dar o que comer para as crianças", diz Rogério. A casa da família tem quatro peças de mobília, mas não tem fogão ou geladeira. Francisca cozinha em um fogão à brasa. Mesmo assim, eles foram vítimas de um assalto. O ladrão levou as poucas fraldas do Jorge Luís, a bicicleta que Rogério utilizava para ir ao trabalho, uma pequena televisão que eles estavam pagando há dois anos, as compras do mês e R$ 17,00 que foi arrecadado através do bingo de uma caixa de bombom, iniciativa da professora de Elizabeth, para a compra dos óculos da menina. Ao falar sobre o roubo, Francisca se emociona. Ela conta que tem habilidades, borda e faz crochê muito bem, mas não tem condições de comprar material. "Eu sei fazer e tenho muita força de vontade, mas não tenho condições de comprar nem um tubo de linha", lamenta. A família mora na rua 4, n 133, Vila Bandeirante II, Timon-MA, próximo ao Hospital Regional Alarico Pacheco. O telefone de contato para ajuda é da mãe de Francisca das Chagas, Jaci, que atende no número 3326-7749.”

*** Logo abaixo, estou publicando uma lista de material de construção, pq acredito q uma tragédia pode acontecer a qualquer momento, caso essa família permaneça na casa de pau a pique onde estão. O teto e uma das paredes são escorados do lado de fora por uma viga de madeira exposta ao sol e chuva e pode ceder a qualquer momento. A idéia é reconstruir a casa e construir um banheiro, pq sem higiene não adianta muito tratar problemas de saúde das crianças, como vermes...enfim, aí está:
1 carrada e meia de pedra
4 mil tijolos
17 sacos de cimento
1 carrada e meia de massará
44 caibros de 3 ½
8 dúzias de ripas
2 portas
2 janelas
Isso, fora o banheiro. Por favor, quem puder ajudar, entre em contato comigo. Em breve espero estar publicando fotos da família aki... Espalhem esse apelo entre os amigos, se puderem...Obrigada!
Para falar com a Nil:
MSN: nildenemineiro@hotmail.com
TEl.: 8803-0550"

Gente, olha eu não sei qual é a atual situação dessa família, mesmo porque, além da distância (já que eu estou em São Paulo) só li o texto hoje e ele foi publicado no blog Bem aqui assim no dia 27/06/05.
Não pedi autorização da autora do texto para publicá-lo aqui, mas como a intenção é duvulgar e ajudar as pessoas que tem AF, estou tomando a liberdade de publicar assim mesmo, citando a fonte é claro.
Quem quiser e puder ajudar, por favor, entre em contato com ela.
Obrigado.